Recentemente, conversando com um colega filatelista associado da SOFICUR sobre a mais conhecida série de selos brasileiros, os "OLHOS-DE-BOI", emitidos em 1 de agosto de 1843, com os valores de 30, 60 e 90 reis, surgiu a dúvida de qual seria o singular de "reis".
Fiquei na dúvida se seria "REAL" talvez devido ao fato de que nossa moeda atual seja denominada Real, bem como pelo pouco uso do singular de reis, sendo mais frequente usar-se "mil reis" ao se falar dos selos do Império e do início da Republica.
Um real, na época em que foram emitidos os primeiros selos do Brasil tinha valor liberatório praticamente nulo, equivalente o que seria nos dias de hoje bem menos de um centavo de real.
Os selos de menor valor facial daquela época são de 10 reis.
Pesquisando, encontrei no "Google" referência ao um site "Pesquisa.com" que possui uma página sobre as moedas vigentes no Brasil ao longo do tempo, muito bem estruturada, o que me motivou a preparar esta matéria abrangendo o período do Brasil Colônia, Império e República, ilustrada com a imagem do primeiro selo ou série de selos emitidos quando das sucessivas implantações de nova moeda.
Como sempre faço ao preparar uma nova matéria submeti o texto a alguns amigos filatelistas, entre eles o Doutor Aluísio Queiroga, que ao comentar o artigo citou um parágrafo do livro "Histórias que o Dinheiro Conta", de autoria de Andé Cintra e Renato Torelli, Ed. Lumes, 2006, pg. 26, que leva à conclusão de que o termo "réis" deriva mesmo do termo "real":
"A metrópole só impôs o real português ao Brasil ao optar pela colonização, por volta de 1530. Também circularam no País moedas de origem espanhola e holandesa, bem como o zimbo (uma concha típica da África). De qualquer forma, o o real português se consolidou em 1694, com a criação da Casa da Moeda. Em 8 de outubro de 1833, entrou em vigor o mil-réis, que tinha o real como base. De acordo com a nova nomenclatura, um milhão de réis passou a se chamar "um conto".
Essas modificações no início com largo lapso de tempo entre elas e posteriormente com frequência crescentes, são devidas à significativa desvalorização do padrão monetário de cada período, devido primeiro à inflação e depois à hiperinflação que aconteceu nas décadas de 80 e iniciais de 90.
A partir de 1973, quando a crise internacional do petróleo fez o custo do barril subir 400% em três meses, de US$ 2,90 para US$ 11,65, a economia brasileira passou a apresentar taxas de inflação crescentes.
De acordo com relatório do IBGE os índices inflacionários do Brasil, no período pesquisado, são:
Década de 1930 = média anual de 6,1%
Década de 1940 = média anual de 12,8%;
Década de 1950 = 19,5%
Década de 1960 = 40,1%
Décadade 1970 = 40,1%
Década de 1980 = 330%
Entre 1990 a 1994 =média anual de 764%
Entre 1995 a 2000 = média anual de 8,6%
Com base em informações colhidas de diversas fontes, em especial além das já mencionadas, consultas ao Catálogo de Selos do Brasil RHM (diversas edições) e a vários colegas filatelistas que conviveram com a maioria das mudançãs ocorridas - o que também aconteceu comigo - passo a relacionar os diferentes interregnos de padrões monetários, numa tentativa de ilustrar aos mais jovens como os perídos de hiperinflação influenciaram a filatelia brasileira, principalmente na questão de valorização de mercado, embora outros fatores também tenham contribuido para isso.
A partir de 8 de outubro de 1833, passou a ser adotado a terminologia "mil- reis". O selo com a maior denominação em reis, um milhão de reis, ou coloquialmente, um conto de reis, foi emitido em 15 de novembro de 1913, sendo o fecho da série de selos "Oficiais" denominada "Hermes da Fonseca".
Em 5 de outubro de 1942, foi estabelecido que cada cruzeiro, a nova moeda , equivaleria a mil réis. Ou seja, pela primeira vez, devido à inflação, aconteceu o corte de três zeros no valor nominal da moeda e mudança de sua denominação. A denominação coloquial de reis, já de longa data era mil reis, devido à intensa desvalorização do real e consequente aumento de preços.
O primeiro selo emitido com o valor estabelecido em cruzeiros foi na verdade uma emissão com sobrecarga em preto, do selo aéreo emitido em 10 de novembro de 1941, em comemoração do 4º aniversário do Estado Novo. O selo com o valor de face de 5400 rs, recebeu, em 10 de novembro de 1942 uma sobrecarga de C$5,40, de acordo com o critério de conversão para a nova moeda.
Devido à reforma monetário de 13 de fevereiro de 1967, o cruzeiro foi substituído pelo r cruzeiro novo e. circulou até 14 de maio de 1970. Aconteceu o corte de três zeros.
O primeiro selo emitido com tarifa na nova moeda tinha o valor facial de 5c (cinco centavos) homenageava Anita Garibaldi e integrou a série "Mulheres Famosas do Brasil". Foi lançado em 14 de abril de 1967,
Em 15 de maio de 1970, sem corte de zeros, a moeda voltou a ser denominada cruzeiro.
O selo (comemorativo) emitido mais próximo a esta data, teve seu lançamento em 19 de maio de 1970, registrando o Bicentenário do Nascimento do Pintor Jean Baptiste Debret.
Em 28 de fevereiro de 1986, com corte de três zeros, a moeda passou a ser denominada cruzado.
O selo (comemorativo) emitido na nova moeda, com data mais próxima à implantação do cruzado, foi o lançado em 11 de abril de 1986, registrando o Retorno do Cometa Halley.
Em 16 de janeiro de 1989, com corte de três zeros, a moeda passou a ser denominada cruzado novo.
O primeiro selo (comemorativo) emitido na nova moeda foi lançado em 10 de março de 1989, comemorando os 300 Anos do Tribunal de Justiça da Bahia.
Em 16 de março de 1990, sem corte de zeros, a moeda voltou a ser denominada cruzeiro.
O primeiro selo (comemorativo) emitido na nova moeda foi lançado em 30 de março de 1989, registrando os 25 Anos do Banco Central do Brasil.
Em 1 de agosto de 1993, com corte de três zeros, a moeda passou a ser denominada cruzeiro real.
A primeira série emitida na nova moeda (2 selos comemorativos) foi lançada em 24 de agosto de 1993, registrando efemérides de Escolas de Engenharia no Brasil - UFRJ e USP.
Em 1 de julho de 1994, passou a vigorar a nova moeda, real. Para conversão do valor, houve a divisão dos valores anteriores por 2.750, valor do índice de conversão anteriormente estabelecido, denominado URV - Unidade Real de Valor. Este foi um índice que procurou refletir a variação do poder aquisitivo da moeda, servindo apenas como unidade de conta e referência de valores. Teve curso juntamente com o Cruzeiro Real (CR$) até o dia 1º de julho de 1994, quando foi lançada a nova base monetária nacional, o Real (R$).
A primeira série emitida na nova moeda (7 selos regulares), Aves Urbanas, foi lançada em 1 de julho de 1994. Trata-se da reimpressão dos seis selos emitidos em 1 de março de 1994 no padrão cruzeiro real e da emissão de um novo selo, no valor de R$1,00 mostrando o João-de-Barro. Pela primeira vez o lançamento da nova moeda e da primeira série foi simultânea. Contudo é de se estranhar a divergência entre os fatores de conversão. Enquanto que para a moeda foi de 2.750, para os selos foi de 1.000.
Este trabalho, conforme já dito, tem como objetivo a descrição da evolução monetária da moeda brasileira no que se refere a modificações do padrão monetário, por alteração de sua nomenclatura e/ou pela redução gráfica de valor (corte de zeros, divisão por um valor fixo, 2.750, caso da mudança de cruzeiro real para real, ocorrida em 1 de julho de 1994).
Contudo, acredito que existam trabalhos bem mais abrangentes e com diagramação gráfica superior. É o caso daquele sobre o qual meu amigo Fábio Flosi me alertou, desenvolvido por meu também amigo, Doutor Roberto Antonio Aniche, intitulado "Estudo das Reformas Monetárias na Filatelia Brasileira" publicado na Revista da FEFIBRA nº 20 - Dezembro de 2013.
É um trabalho de peso, de extrema utilidade para quem, ao ler meu texto, se interesse pelo assunto. Deste modo, coloco link para o arquivo .pdf do texto do Doutor Aniche. nos moldes sugeridos pelo filatelista Fábio Flosi.
Também recebi do Fábio Flosi arquivo .pdf contendo tabela elaborada pelo Banco Central do Brasil, muito interessante e pertinente ao tema, que pode ser visualizada clicando-se no link a seguir:
Por sugestão de colegas, preparei uma nova tabela acrescentando a imagem dos selos àquela emitida pelo Banco Central do Brasil, de um modo bastante amadorístico:
Agradeço imensamente aos meus amigos filatelistas que contribuiram para a revisão e aperfeicoamento deste."artigo", complementando as informações constantes do texto inicial.